FÉRIAS  E  A  CASA  ESPÍRITA

            O período que vai do início de dezembro ao final de fevereiro, além do mês de julho, são oportunidades valiosas para análise de um triste fenômeno que ocorre em muitos centros espíritas: o sumiço de vários trabalhadores devido às férias de algumas atividades. Isso não quer dizer que condenamos as pessoas que saem de férias. Claro que não! Afinal, é a época das férias escolares e das férias do trabalho de muita gente. Portanto, nada mais saudável do que viajar com a família, aproveitar a praia, relaxar, conhecer outros lugares, fazer novas amizades...
            Mas quanto tempo duram as férias de quem trabalha? 20 ou 30 dias. Findo esse período, a pessoa volta para casa, para o trabalho, mas não aparece na casa espírita se a atividade da qual participa ainda estiver de férias. Por quê?
            Há pouco tempo, trabalhadores de um centro espírita do Estado do Rio de Janeiro foram testemunhas da seguinte cena: às vésperas das férias, o coordenador de um grupo de estudos deu o seguinte recado: “pessoal, os grupos de estudos vão entrar de férias, mas a casa prossegue em suas atividades. Aproveitem e apareçam para assistir a uma palestra e ajudar em alguma outra atividade.” Uma participante do grupo, evangelizadora de infância, aproximou-se de outra evangelizadora e disse a ela, no pé do ouvido: “Ah, mas eu não apareço aqui nem que me paguem!”.
Como interpretar esta frase? Será que a jovem senhora estava dando graças a Deus que o grupo de estudos e a evangelização infantil estavam saindo de férias para ela poder sumir da casa espírita por uns tempos? Será que as reuniões são tão chatas assim? Será que ela estuda a doutrina e evangeliza de má vontade ou contra a própria vontade? Será que alguém a forçou a ser espírita e ela aproveita as férias para respirar aliviada? A resposta não está em nenhuma das sentenças acima, já que ninguém é forçado a nada num trabalho voluntário, como os do movimento espírita. A resposta reside no seguinte: a jovem senhora não enxerga o centro espírita como uma célula viva, na qual todos os trabalhadores e atividades devem agir de forma integrada. Para ela, o centro espírita é feito de compartimentos estanques. Como as atividades das quais participa iriam entrar de férias, ela não vê necessidade de aparecer. O resto do centro espírita não lhe interessa.
Só que na declaração infeliz da jovem senhora reside um fato gravíssimo: ela é evangelizadora da infância; tem nas mãos a incumbência de passar para as crianças a doutrina espírita e o amor pela causa e pela casa espírita. Como as crianças vão assimilar este amor se a evangelizadora, ao que tudo indica, não tem amor pelo centro que frequenta? O mesmo vale para aplicadores de ESDE e evangelizadores de mocidade que agem da mesma forma. Fico imaginando o que essas pessoas fariam se as atividades que exercem tirassem seis meses de férias. Ficariam elas seis meses sem aparecer no centro? E se as atividades fossem extintas? Iriam elas embora do centro para sempre?
Quando soube deste episódio, passei a observar a casa espírita da qual faço parte. Além disso, sondei com amigos de casas espíritas da minha cidade e de municípios vizinhos. Constatei, chateado, que o fenômeno é mais comum do que eu imaginava. Pessoas que participam de atividades que entram de férias (Esde, mocidade, infância e, em alguns centros, coral e grupo de teatro) desaparecem durante as mesmas. Ficam de dois a três meses longe do centro, numa atitude de total indiferença. Se a pessoa está de férias do trabalho e aproveita para viajar, repito, é saudável e recomendável. Todos precisamos sair da rotina de vez em quando. Mas voltar das férias do trabalho e não aparecer no centro porque a atividade da qual participa está de férias é um pouco demais. Não estou dizendo que a gente deve freqüentar a casa de segunda a segunda. Afinal, todos temos diversos compromissos fora da casa espírita. Mas assumir a postura de quem larga a tarefa como quem se livra de um fardo, sumir por meses e depois voltar como se a casa espírita tivesse deixado de existir por um período é lamentável.
            Vale ressaltar que no período de férias, as reuniões públicas doutrinárias não param. Os passes são aplicados como sempre, as bibliotecas e livrarias continuam sendo procuradas, mensagens não deixam de ser distribuídas, o diálogo fraterno permanece atendendo gente com problemas sérios... E quem mantém estas atividades funcionando nas férias é o grupo dos abnegados de sempre; pessoas que são obrigadas a trabalhar por três ou quatro para atender aos necessitados e interessados, que aumentam a cada dia. Enquanto isso, a turma das férias...
            Se as pessoas que estão de férias do centro espírita tivessem a sensibilidade e o bom senso de aparecer de vez em quando, veriam que podem ser úteis em várias outras atividades e aliviariam a carga dos que não tiram férias do centro espírita. Além disso, seria uma ótima oportunidade para que surgissem novas frentes de trabalho.
Infelizmente não é o que ocorre. E isso, além de preocupante, é triste. Muito triste.